IV Congresso Transfronteiriço de Meteorologia e Alterações Climáticas

10-05-2023

“Noroeste de Portugal e Galiza adaptam-se para as adversidades de um clima mais quente e seco”

O IV Congresso Transfronteiriço de Meteorologia e Alterações Climáticas, realizado no dia 6 de maio na Casa das Artes, em Arcos de Valdevez foi um sucesso a vários níveis. A participação de 150 congressistas foi um recorde face às edições anteriores e, demonstra que a comunidade está cada vez envolvida e preocupada com as mudanças climáticas que estamos a viver. Segundo a organização, este evento atingiu dimensão internacional com participantes vindos da Galiza (Vigo e Ourense) e territórios nacionais mais longínquos como o Alentejo, Lisboa, Leiria, Viseu, Aveiro, Porto, para além de várias localidades do Minho.

Este IV congresso transfronteiriço também foi marcado por um momento significativo, o protocolo entre a Autarquia de Arcos de Valdevez e o IPMA, formalizando a certificação da estação meteorológica do Centro Ciência Vida de Arcos de Valdevez.

O presidente da Câmara de Arcos de Valdevez, João Manuel Esteves, avançou que o equipamento certificado fará parte de uma rede integrada municipal de 4 estações meteorológicas (RIMEM), distribuídas geograficamente por ambientes microclimáticos diferenciados. Este projeto pioneiro pretende estar ao serviço da comunidade e dos diferentes agentes locais (segurança, proteção civil, silvicultura, agropecuária, turismo, ambiente). A RIMEM pretende também contribuir para a resiliência face às mudanças climáticas que estamos a sentir e, ao mesmo tempo ser uma ferramenta útil no âmbito do Plano de Ação Climática Municipal.

No quadro das comunicações apresentadas neste Congresso, a comunidade educativa assume estar empenhada em continuar a monitorizar as oscilações e tendências climáticas da região.

Isaac Gómez, subdiretor Geral de Meteorologia e Alterações Climáticos apresentou o Plano Regional de Adaptação Climática que está a ser implementado na Galiza. A estratégia galega é muito ambiciosa na aposta das energias renováveis até 2050. O responsável espanhol apresentou números muito animadores de descarbonização e de adaptação energética na Galiza, região autónoma com resultados no país e com metas já acima da média europeia.

Susana Bayo, física investigadora da Universidade de Vigo e apresentadora meteorologista de televisão local, apresentou estudos dos anos 2021 e 2022 quanto a fenómenos meteorológicos extremos cada vez mais frequentes na Galiza. Os períodos de seca mais prolongados, as ondas de calor e invernos mais suaves são uma realidade inimaginável não faz muitos anos e que agora exigem medidas drásticas de adaptação a um “novo” clima da região galega.

João Santos, geofísico da UTAD, entre os 1000 investigadores de alterações climáticas mais reconhecidos do mundo adianta que o noroeste da Península Ibérica apresenta um aumento evapotranspiração, trazendo balanços negativos de água no solo e recorrentes situações de secas mais severas. Defende ainda que setores socioeconómicos importantes na região como a vitivinicultura (Vinhos Verdes), já se tem vindo a adaptar, mas que terá de continuar e intensificar este esforço nas próximas décadas. Só desta forma será possível manter a sua sustentabilidade ambiental e socioeconómica.

Adriano Bordalo e Sá do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto apresentou a influência do impactos climáticos no aumento do risco bacteriológico na saúde pública. Revela que o aumento da temperatura do ar, solos e água, períodos cada vez mais frequentes de secas, inundações e de tempestades, estão a aumentar a densidade de microrganismos, incluindo a dos patogénicos. O investigador mostra profunda preocupação com as praias da região Norte, mesmo as de bandeira azul onde tem sido detetada no verão, uma grande, presença de bactérias altamente patogénicas, não abrangidas pelo controlo sanitário oficial. Defende ainda a necessidade de mudar a mitigação do efeito das alterações climáticas, tendo em conta o conhecimento atual sobre o papel dos microrganismos de modo a serem desenvolvidos planos de proteção da saúde publica de forma integrada.

Joaquim Alonso do IPVC, responsável da equipa que está a criar o Plano Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas, defende a importância da consulta e participação pública para a sua implementação com sucesso.

O Presidente do IPMA, Jorge Miguel Miranda despertou o interesse de toda a plateia. Referiu que os registos alarmantes deste ano 2023 com o mês de fevereiro mais quente de sempre e, o mês de abril com três ondas de calor são sinais que fazem antever um verão muito difícil e prolongado no tempo. Adianta que os cenários previstos exigem uma responsabilidade acrescida dos comportamentos individuais, uma vez que as entidades públicas poderão não ter meios de resposta atempada.

O Diretor do CENFIPE, José Carlos Fernandes, manifestou um grande orgulho nesta organização conjunta com a Autarquia de Arcos de Valdevez e com a parceria direta dos Agrupamentos de Freixo (mentor do Projeto) e do Agrupamento de Valdevez que passa a integrar a RIMEM – Rede Integrada de Estações Meteorológicas - desenvolvendo o Projeto VEZ METEO. José Carlos Fernandes destacou ainda o Trabalho fantástico do Agrupamento de Escolas de Freixo, do Professor Sérgio Basto e das dinâmicas pedagógicas conseguidas que entusiasmaram e motivaram o grupo de professores e alunos do Agrupamento de Escolas de Valdevez que, uma vez montada a sua estação meteorológica, reunirá condições para contribuir para a rede com projetos pedagógicos inovadores e facilitadores de verdadeiro serviço público.

João Esteves, Presidente da Autarquia de Arcos de Valdevez referiu que este é um projeto importante para a região, manifestou o seu agrado pelo sucesso do Congresso, pela qualidade dos oradores, atualidade temática e pertinência das intervenções, pelos projetos das Escolas existentes no terreno e sobretudo por estarmos a trabalhar em rede triangulando informações e prestando um serviço à comunidade científica, económica e proteção civil.

Uma vez que a temática é cada vez mais importante para a sociedade, a organização diz que já se encontra a trabalhar na V edição de 2024.

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